A Fúria Azul teve a iniciativa de começar a fazer entrevistas
a outros grupos ultras nacionais, com o objectivo de saber as diversas opiniões
sobre o panorama ultra e sobre o que pensam sobre nós. Desde já queremos
agradecer á Filipa (Lipa) da Mancha Negra, por se mostrar disponível para ser
entrevistada. Muito obrigado da nossa parte.
1 - Como surgiu a tua ida para a claque?
R: Entrei para a Mancha na época de 2003-2004. Aprendi a gostar da Académica com o meu avô mas foi através de uma amiga que me juntei à claque. Identifiquei-me desde logo com a forma da Mancha estar na bancada…o apoio, os cânticos, as bandeiras, as coreografias…Fui ganhando aquele “bichinho” jogo após jogo, fazendo amizades, fazendo o possível e impossível para poder estar presente, até que acabou por fazer parte da minha vida até hoje.
2 – Do que te veem á memória, qual o melhor ou
os melhores momentos que viveste como elemento do grupo?
R: Bom, 14 anos são muitos momentos mas realço dois. O 19º aniversário da Mancha Negra, que foi o primeiro aniversário que festejei com a claque e onde se respirava a cena Ultra, com vários outros grupos representados por alguns dos seus membros. Era uma altura em que se valorizavam muito as amizades existentes entre os grupos, e que felizmente tenho visto a renascer na Mancha outra vez. E claro, a vitória da Taça de Portugal em 2012, por tudo o que significou para a Académica, para a Mancha e para a cidade de Coimbra. O dia 20 de Maio de 2012 é daqueles dias e datas que é impossível sair da memória.
3 - Qual
é a postura da Mancha Negra, relativamente à moda que se adivinha ser cada vez
mais usual nos dias de hoje, o denominado: Estilo Casual?
R: Penso que isso tem
mais a ver com a forma de estar de cada um. Na Mancha sempre houve espaço para
o respeito das diferenças e ideais de cada um.
4 – Que importância tem para vocês enquanto
grupo, a realização de tifos num grupo ultra? Quais consideras ser os vossos
melhores tifos ao longo destes anos?
R: Para mim, o colorido e animação que trazem à bancada falam
por si. Olhar para uma bancada com um tifo, perceber a mensagem que se quer
passar, desfrutar daqueles minutos…é fantástico e mexe com o resto do estádio e
com a equipa. Depois também há todo o processo de preparação e montagem dos
tifos, que implica muito tempo da parte dos ultras, espírito de grupo, união e
por vezes até sacrifícios. Há muitos tifos realizados pela Mancha que considero
muito bons. Um deles foi no jogo AAC – Vitória SC (2008), por toda a mística e
simbologia que se conseguiu criar. Outro que para mim ficou sempre na memória,
não pelo colorido mas precisamente por demonstrar como a falta deste e de pessoas
no estádio “mata” o futebol, foi o AAC – Leixões, em 2007, quando o jogo
começou e o sector da Mancha se encontrava vazio, apenas com um sofá e três
elementos. Podia ler-se “Desculpem mas hoje ficámos no sofá!” Foi diferente e
passou muito bem a mensagem. Na altura muitos blogs falaram disso. (A Mancha
regressou ao sector na segunda parte). Sou suspeita para falar disso mas a
Mancha sempre teve uma ótima capacidade de imaginação e concretização para
realizar bons tifos.



5 - Sentes que existem dificuldades em passar os valores e ideais, e incutir a tradição Ultra aos
mais novos, tendo em conta o actual panorama Ultra em que o nosso país vai vivendo?
R: Sinto, é sempre difícil passar valores e ideias a gerações
diferentes, mas sinceramente já senti mais. Na Mancha está a surgir uma Nova
Guarda com uma presença muito forte, que absorveu bem o espírito, a mentalidade
e tem muita vontade de fazer mais pelo grupo e de apoiar. Têm trazido gente
nova ao estádio e eles próprios têm passado muito bem a mensagem. Tenho também
observado muitos filhos de elementos mais antigos a juntarem-se ao grupo o que
demonstra que a continuidade de ideias e valores vai no bom caminho.
6- Muito se tem falado de duas questões muito
importantes, Legalização e Pyro, qual é a tua opinião em relação a ambas as
questões?
R: Questões importantes e muito sensíveis. Vou dar a minha
opinião, que espero que seja respeitada, tal como respeito os que estão do
outro lado, porque no fim são mais os pontos que nos deviam unir a todos do que
os que os separam. Eu não sou a favor da lei, acho-a ridícula, mal feita e sem
dúvida que é discriminatória. A questão é que acima de tudo sou da académica e
sou sócia da académica, por isso para mim o melhor para a académica será sempre
a opção a escolher. A meu ver, a época passada foi má em termos de apoio,
estávamos a perder muito da cena Ultra e nem a claque nem o clube beneficia com
isso. Acho muito sinceramente que é possível legalizar e lutar mesmo assim pela
alteração da lei, a questão é que não há união de grupos e todas a tentativas
acabam por sair falhadas. Há anos que é assim e nem uma questão como a legalização
conseguiu unir grupos na mesma luta, pelo contrário, criticam-se uns aos outros
pelas decisões de cada um o que só nos enfraquece a todos. No que diz respeito
a valores, a Académica está em primeiro lugar. Há alturas na vida em que não
podemos ser tão radicais e às vezes é preciso dar um passo atrás para podermos
voltar a andar para a frente. No que diz respeito a Pyro, gosto do efeito de
uma coreografia com tochas, obviamente utilizadas de forma a não comprometer a
segurança de ninguém e usadas de forma responsável.
R: Alverca em Dezembro de 2003, porque foi a primeira
viagem fora. Eu era uma miúda ainda e foi uma conquista muito grande poder ir
fora com a claque!!!!
8
- Fazes parte de um núcleo da
Mancha Negra, o núcleo das Girls, em que medida o surgimento do núcleo
conquistou mais mulheres para o grupo?
R: A Mancha sempre teve
muitas mulheres mas nos últimos anos não houve nenhum núcleo feminino ativo e
assim estávamos mais dispersas. Reativamos as Girls de forma a unir as mulheres
e a trazer novos elementos também. Os núcleos são uma boa forma de trazer mais
gente para o grupo e nas Girls aconteceu isso mesmo, fomos trazendo amigas que
foram ficando e hoje em dia são presença assídua nos jogos e nos eventos da
Mancha. O núcleo tem estado muito ativo e presente em todos os jogos, fora ou
em casa.
9
– As mulheres são consumistas por natureza, o vosso núcleo tem merchandising
próprio?
R: Então os homens não são
consumistas e não compram material do grupo é? (risos) O núcleo tem algum
material próprio mas tem sido feito só em quantidade limitada para os seus elementos.
10 - Diz-nos qual a tua opinião, no que diz
respeito á Fúria Azul enquanto grupo ultra?
R: Ainda sou do tempo (risos) de convívios entre elementos da MN
e FA por isso tive oportunidade de conhecer um pouco do vosso grupo. Ambas as
claques são praticamente da mesma idade e por isso têm uma longa história no
próprio movimento ultra em Portugal. A FA é um grupo com grande mentalidade e
de convicções fortes, sempre presente no apoio ao clube que ama, não importa se
com muitos ou poucos ultras, e independentemente das dificuldades que também
tem encontrado.
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